segunda-feira, 4 de agosto de 2008

SP: Atores transformam triciclo em rádio de rua

Categorias: grupos e coletivos




Em Cidade Tiradentes, bairro da periferia de São Paulo, jovens atores inventaram uma forma atraente e pouco convencional para divulgar a programação cultural do bairro e entreter a comunidade. Montados num triciclo paramentado e munidos de microfone e caixa de som, eles vão às feiras e locais de concentração de pessoas. Divulgam o que vai acontecer no Centro Cultural Arte em Construção de uma forma muito divertida, envolvendo quem passa nas histórias e nos dramas do mundo radiofônico. É a Rádio de Rua.




Muito à vontade, as pessoas também interagem com a rádio: uma delas pede para tocar o CD de sua banda, um rapaz faz declaração para a namorada, outros cantam funk... quem tiver junto se apropria rapidamente daquela brincadeira! Todos os responsáveis pela Rádio de Rua moram em Cidade Tiradentes. São eles: Francisco Estanislav; Luara Sanches; Jessica Nunes; Natali Santos; Thabáta Letícia; Claudio Pavão; Paulo Maia; Fernando Alves; Ellen Rio Branco; Ricardo Big.
Com idades que variam entre 14 e 31 anos e todos fazem parte do Núcleo Teatral Filhos da Dita, “cria” do Centro Cultural Arte em Construção e do grupo de teatro Pombas Urbanas. Vejam abaixo uma entrevista com o grupo, sobre esse novo – e diferente – meio de comunicação.
Como surgiu a idéia da Rádio de Rua?
Somos um Núcleo de jovens moradores de Cidade Tiradentes que está sendo formado em Teatro pelo grupo Pombas Urbanas, desde 2004, no Centro Cultural Arte em Construção. A divulgação do trabalho já era feita pelo próprio Pombas Urbanas com as intervenções teatrais em ruas e feiras livres do bairro ou com a rádio, que era feita com mesa e caixa de som na porta do Centro Cultural tocando música e convidando as pessoas pra programação de espetáculos, filmes e cursos. Aos poucos, e como parte de nossa formação artística, fomos participando dessa divulgação nas feiras e na rádio. Em 2006, nós do Núcleo escrevemos um projeto para o Programa VAI e fomos contemplados, viabilizando assim a criação da Rádio de Rua Ambulante que passou a mesclar as intervenções teatrais com a rádio, que ganhou mobilidade para ir além da porta do Centro Cultural. Montada num triciclo de carga e ligada em bateria de carro, a Rádio passou a circular as ruas do bairro divulgando eventos culturais e entretendo os moradores.

Qual a reação das pessoas na rua com a Rádio? Cria-se um diálogo com elas?
No começo rolava mais curiosidade por parte das pessoas na rua, pois mesmo sendo um triciclo de carga as pessoas não o viam como tal, até pelo visual que demos a ele. Então, quando o vêem pela primeira vez, perguntam: O que é isso? O diálogo se dá muito mais quando, além do barulho da música ou utilização dos microfones, vamos caracterizados de personagens, o teatro dá mais vida à Rádio. Esse diálogo também flui porque geralmente os personagens que criamos pra essas intervenções são baseados nos moradores do bairro – seja ele um nordestino ou uma criança -, daí eles se identificam e se mostram mais abertos a dialogar. E até pra gente fica mais fácil se relacionar com o público, porque não fica só uma relação “fria”, na qual só anunciamos no microfone o que vai rolar.
A partir desse diálogo, vocês fazem pesquisas para criar novas intervenções com a Rádio?
Por mais que tenhamos elaborado uma proposta pra Rádio de Rua quando escrevemos o projeto, na prática vemos como essa proposta vai se dando. A resposta das pessoas, o que funciona e o que não funciona é que vai dando novas idéias pra Rádio. Não há uma proposta fechada, sentimos que sempre surgirá algo novo.
E, em relação ao contato com as pessoas nas ruas, tem alguma história curiosa da Rádio?
Um dia, na volta da Rádio pro Centro Cultural, encontramos um cara que pegou o microfone e começou a falar da nossa programação como se estivesse narrando uma partida de futebol, nesse mesmo dia um morador do bairro pediu para tocar o cd de sua banda na Rádio. Quando a gente menos espera surge alguém intervindo. Outro dia, em Guaianases, um senhor bêbado fez uma declaração pra sua namorada no microfone da Rádio e se emocionou. Os jovens costumam cantar um funk. Enfim, as pessoas se divertem em mandar um recado na rádio pra um amigo que às vezes tá do lado.
Nesse tempo em que a Rádio circula, vocês tiveram retornos concretos de pessoas que os viram na rua e chegaram ao Centro Cultural Arte em Construção?
Como a programação rola de fim-de-semana, fazemos a divulgação com cartazes e flyers durante a semana. A Rádio funciona na divulgação de imediato, horas antes do espetáculo por exemplo. No final das apresentações fazemos pesquisas com o público pra saber de que forma ele ficou sabendo do Centro Cultural, daí variam as respostas. A Rádio tem sua parte mas o boca-a-boca funciona muito também. Há jovens que ficaram sabendo dos cursos do Centro Cultural porque o pai pegou um flyer com a Rádio na feira.

Vocês acreditam que a Rádio estimula, de alguma forma, outros jovens a buscarem maneiras criativas de comunicação?
Não temos idéia de algum resultado concreto realizado por outros jovens, mas alguns que vêm no nosso espaço e conhecem a bike-rádio curtem a idéia e acabam participando conosco, mesmo que seja por um dia. Trazem um novo olhar sobre nosso trabalho e isso nos dá novas possibilidades de criar propostas que ainda não havíamos pensado. Ontem, numa escola fizemos a Rádio e fomos convidados a participar de um evento de bandas de rock... pode parecer que não tem nada a ver, mas é legal dialogar com outras linguagens. Ultimamente temos conversado sobre essa abertura da Rádio, sobre abrir mão um pouco, pra que outros jovens se apropriem da Rádio como instrumento para mostrar o que fazem, seja tocar, cantar, recitar. Como já vem rolando com alunos dos cursos do Centro Cultural.

Fotos: Divulgação/ Pombas Urbanas